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E elle a fitava compungido, “Oh! ella não poderá viver longo tempo, sob essa tormenta incessante... No seu corpo estreito, e branco se refugia, vibra, canta, a vida juvenil, moça, não gasta, robusta, verde, dos sêres que morreram na idade primaveril... Meu Deus! será possivel que sobre esta amorosa de demasias e mutações exquisitas, cheia de detalhes aureos e rupturas magnificas se approxime a morte, a morte horrivel... — E os olhos do poeta brilharam lacrimosos.

Elle se achava de todo livre d´aquella agonia tenaz, d´aquelle traço selvagem de ciume que o fazia outr´ora, repetir como um demente: “Ah! se ella morresse!” Agora exultava; agora tinha a certeza do amôr de Ladice, do seu eu physico e moral, agora queria rolar pela vida o labio em seu labio, ambos cingidos pelos circulos do deslumbramento. Agarrando-a vivamente, apesar da magoa que lhe confrangia o coração, exclamou, respondendo antes, a sentimentos internos: “Eu te sei eterna, oh! Musa immortal!”