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des... Deponho em teu coração todas as flores que se formaram em meu corpo — e ella parou deante d´elle, os olhos em seus olhos. — São eclosões de trevas, de luz, de nuvem erradia, de contornos de luar em onda insubmissa, de aridez de rocha maldita.... Ellas são todas, a revelação demente, paralysante, selvatica, de meu Desejo por ti, Thêo, meu adorado... Põe os labios aqui; — e ella lhe extendeu a palma da mão — E´ a rosacea livida de meu estertor. Colla a boca aqui; — e ella lhe mostrava o pescoço — E´ a haste branca do meu suspiro. Beija aqui; e ella lhe apontava a boca — E´ a rosa rosea do seio de Aphrodite. Aqui; ― e ella lhe designava os olhos — São os amores de Pan. "Aqui; e ella lhe indicava os cabellos — A loucura das caricias sem fórma. Aqui; — e ella lhe apresentava o collo — A vertigem em flammas a te dizer sim. Aqui; e ella lhe apontava os pés — As raizes de minha belleza...— Agora ella mudara, transformara-se, tornara-se a Dadivosa, a Prodiga, que beija, que doira, que diviniza o seu amôr: — Eu sou libellula fremente; e os seus braços, se abriam com movimentos de asas, distribuindo, a esmo em Theophilo, beijos sem conta — Tu és a agua, o mel, o pollen, o coração profundo do universo vivo...

E por momentos os seus labios se detiveram em a fronte do poeta — “Ah! Thêo! — E ella deu um gri-

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