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dos, cartas abertas, outras ainda fechadas, pesos de bronze, canetas, pennas derramadas... E dominando tudo como um sorriso, como o luzir breve, impedrado, de acceso lume, a emergir de gargalos estreitos, as flôres de sua cintura que lhe offertára na vespera... Insensivelmente Ladice se curvou e poz-se a lêr as cartas que alli se achavam: felicitações ao mestre glorioso, pedidos de conselho, agradecimentos de remessa de livros, phrases, saudosas em cartões postaes, de amigos ausentes. E... Ladice recuou pallida, offegante, segurando em as mãos tremulas um papel com os seguintes dizeres em esguia calligraphia feminina.

“Querido Theophilo.

Por que me abandonas? Em vão a nossa filha te chama e os meus parentes indagam de tua ausencia. Alguma “franceza” perversa te roubou a mim? Será possivel que não ouças a voz da mulher que te adora e que se acha doente por causa de ti? Ah, Theophilo, lembra-te de que ha 10 annos, que vivemos juntos, que tenho sido uma companheira fiel e amorosa.

Ha 6 mezes que não te vejo; quasi que não me escreves e quando o fazes não me respondes ás perguntas... Meu Deus, que haverá? Céos, que desgraça me ameaça? Apesar dos carinhos que me prodigalizam só anhelo pelos teus. Em nome de nossa filha, vem. Tem piedade de quem te ama muito, muitissimo.

Um beijo da mulher que te adora

Rahel.