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— Ah! João, não pretendo casar-me...

— Mas, então, mudaste de opinião?

— E' que — parece-me, nunca hei de gostar de alguem...— Depois de uma pausa, recordando-se das linhas que escrevera em seu “Diario” — affirmo-te que nunca hei de amar...

— Mulher nenhuma veio ao mundo mais prodiga em encantos para a vida conjugal que tu, Ladice... — E João retinha em as mãos, as mãos floridas de sua prima.

— Dedicar-me-ei ás sciencias, estudarei philosophia,

— E teus pais? elles te casarão, apesar de ti. Tenho certeza de que não agirás, desde que mostrem o maximo empenho em te entregar ao primeiro mortal que appareça, cheio de dinheiro e de juizo...

— Talvez. Mas, nessas condições, terei toda a irritação do sacrificio involuntario. Entendes? Se me não separar, — accrescentou ella, esmigalhando as flores — será simplesmente por causa de minha natureza, de meus principios...

— E a sociedade?

— Sou d'ella, apenas um atomo isolado, alheio a tudo; vivo sob o meu sol, o meu unico destino, o meu pedaço de terra...

— Entras na vida com uma indifferença soberba. Entretanto, serias estrella em os salões...

— Não o desejo absolutamente. Seria uma ambicão futil, mesquinha... Quero ser a estrella — ajuntou sorrindo — de um coração, de uma eternidade, de dois olhos castanhos, febris, que se devem fechar