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E' uma labareda ignota, não presentida, cauta, mas infallivel, certa, fatal, na sua urdidura constante, que vai de um senso a qutro senso, numa concatenação infernal.

Todos se rendem a essa fascinação ardente, a essa inconsciencia organica...

As senhoras, de espaduas núas, querem fremitos mais profundos, mais espertos, mais mortaes.

As virgens saboream, sem se poderem explicar, a ebriez, o languor, que, por vezes, lhes roça a bôca, as narinas, a garganta, como pontas de charpa frouxa, tassa, pesada, de caricias e beijos...

Os homens carregam em as velas, em as retinas, em as cellulas, todas as orgias da novidade, todo o vampirismo do desejo e da emoção não libados...

O artista leva a sua perfeição, a sua volúpia dionysiaca em busca de arte, de sonho, de inspiração.

A Vida desata, liberta, desprende, a licenciosidade, a luxuria, a incontinencia, escondidas, suffocadas, disfarçadas pela castidade, pela pudicicia, pelas attitudes gregas e virtuosas...

E' a vertigem da mocidade, é o pœan estridente, ingenito do sangue á eternidade. E' o grito da especie pela florescencia, o fruto, por outro ser... E' a laboração da natureza, que firma a sua soberania, pedindo multiplicações, sequencias... E' a vozeria dos instinctos para outras fixações, para a hereditariedade...

Sómente as fibras relaxadas, as arterias desangradas, as sensações gastas, extinctas, queimadas por febres idas, sómente as imaginações paralysadas pelo