— Um perfil frio vestido de silencios e sombras, com uma bôca que não ria. Os olhos eram castanhos, porém vidrados. A's vezes, enfiava-lhe o rosto a pallidez dos agonizantes, e as suas mãos então se abriam e se fechavam, como si estivessem ebrias de raiva...
— Que horror! — exclamou Dinah,
— Algum louco, fugido do hospício? — inquíriu-lhe a mãe, irônica.
—... De espaço a espaço — proseguiu Ladice, indifferente ás perguntas — sacava do bolso uma tira de papel e escrevia algumas linhas, talvez rimas, quem sabe? E, ah! se vissem — exclamou ella — em seus olhos, em suas mãos, em seus labios, em os cabellos negros annexaram-se a luz, a chamma do Universo!... Elle se multiplicava!...
Lalice fantasiava. Ella se referia, em pensamento a Theophilo, triste, contrariado; tinha prazer em mistural-o á sua conversa, á sua vida, em trazel-o á discussão.
— Mas, quem é? Algum noticiarista? — indagou Dinah.
— Ignoro-o. — E Ladice sacudiu os hombros.
— Em toda a festa, ha sempre uns typos exquisitos, valdevinos, presumpçosos, que gostam de chamar a attenção—sentenciou a sra. de Santo Hilario.
— Absolutamente, não me parecem um valdevinos, mamãe. Os seus gestos eram nobres e a sua cabeça magnifica. Creio ser um brasileiro, residente em Paris — accrescentou ella, victoriosa, pela sua ousadia.