Página:Exaltação (1916).pdf/63

Wikisource, a biblioteca livre
— 55 —

da rebelde, que teimava em esconder um signal preto, de azeviche, na sua nuca alva, cheirosa, macia, qual petala de magnolia.

Jeanne era bem entendida nos mysterios da seducção; ella sabia com uma arte singular, pôr em evidencia, salientar as pequenas bellezas que mais pertarbam o homem. É assim, apparentando indifferença e naturalidade, dobrava a renda, como se fôra para dar mais harmonia á “toilette”,

Jeanne entrára para o serviço da casa quando Ladice ainda trazia os vestidos acima dos joelhos, quando ela ainda corria, selvagem, atrás dos vagalumes, sobre o gramado sombrio... Foi Jeanne quem primeiro a iniciou no francez ; quem lhe preparou, por assim dizer, essa graça que se tornára o seu encanto maximo. Ah! os cuidados que tivera com essa criança inquieta, buliçosa! Com que prazer agarrava aquelle corpinho nervoso, a se torcer de riso, depois de lhe haver armado alguma cilada... Quantas vezes não lhe ia ao encontro lá embaixo, na horta, a brincar ao sol, sem chapéo, com a areia, e as flôres de laranjeira! Via-a apanhar flôr por flôr, e encher o aventalzinho e a cabecinha, para depois fechal-as nas mãos, apertal-as, a ver si sentiam, dizendo: — Vês? Jeanne, morreram... E, quando ella rolava na terra, na herva ainda orvalhada, cantarolando, contente, risonha, as faces encarnadas; que enlevo vel-a, de camisa, após o banho, trançar os pézinhos nús para a dansa. Quanto trabalho, quanto engodo. para apanhal-a quando fugia, descalça, para o rio, a saltar de pedra em pedra, atrás. dos peixinhos, ou então, armada de