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anzol, sentadinha, paciente, á espera que a lagosta engulisse a isca! Depois, os estudos, a disciplina de Fräulein, a severidade de Madame... Com ternura quasi materna, Jeanne saboreava essas recordações, avaramente guardadas no seu coração e no seu espirito.

— Prompto, Mlle. O doutor ha de achal-a a moça mais bonita do Rio — disse ella, rindo-se, admirando-lhe a linha perfeita.

Dinah e Ladice seguiram juntas; ambas altas, esguias, formosas; porém, de um subjectivismo totalmente differente: a senhorinha de Santo Hilario era a natureza, a eclosão do extase, o mal divino, a violencia biologica da paixão; a outra, o mysticismo das capellas invadidas de sombras; a vontade eversiva, aguda, que pede martyrios, mutilações, flagicios; a impaciencia risonha, a fixidez branca, immaculada dos bemarventurados.

Tomada de forte accesso de riso, Ladice dizia á Dinah: Ah! o exame por que vou passar... Como elle me vai olhar... Verás como as suas pupillas me perseguem... E´ a mesma obstinação da noite pelo dia...

Nesse momento, a porta da sala abriu-se; a sra. de Santo Hilario vinha em busca de Ladice, relanceando a vista pela “toilette”:

— Já é tempo de appareceres... Sê cortez e gentil; faze-lhe companhia, emquanto ultimo os preparativos.

Ao ver Ladice, o dr. Assis ergueu-se, e affavel, de mãos extendidas:

— Traz na physionomia as nuanças da Aurora...