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— Eu, por mim, não lhes noto differença... Vejo-as todas iguaes, todas languidas — retorquiu ella.

— Senhorinha Ladice, é uma tormenta: — por onde passa, deixa signal, particulas que a trahem... —Sorrindo: — Aquellas corollaz, aquellos estames estão cheios de seus gestos. Têm peccados, que me recordam as suas attitudes serpentinas... —Francisco nunca se acreditou tão subtil, o attribuia isto à suggestão, ao encantamento que vestia as fórmas desse corpo fragil. Em finalizando, suas pupillas procuraram galvanizar-se, rapidas, em as pupillas de Ladice.

Ella cessou de comer, cruzou o talher, e sentiu a mesma sensação rosca que tivera no baile; disfarçando, disse:

— E´ effeito de imaginação, ou talvez de coração cheio de sympathia...

— Sou um homem positivo, mas, ao seu lado, sob a sua dominação, desappareço, para surgir idéalista, romantico, um outro eu, emfim... Reflexo pallido, esvaido, longinquo de sua pessôa. — E, depois de curto silencio, sério, inquiriu-lhe de repente: — Senhorinha, nunca amou?

Tomada de improviso, surprehendida, Ladice, empallidecendo, encarou-o; as suas palpebras se comprimiam, o seu respirar se tornava pesado.

— O amor, em a Senhorinha deve ser immenso — objectou elle, sem se perturbar, e parou, a ver o que ella respondia. Ladice, porém, permanecia calada. — Queira dizer-me, nunca amou?