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sica.— O dr. Assis approximára-se de manso, e, emquanto falava a Ruth no meio da sala, admirava-lhe o corpo esbelto, feito para o beijo e a caricia, a garganta branca, incomparavel e, em mente, dizia: “Quanto Deus foi prodigo para com essa mulher!...”

— E´ á distancia que apreciamos melhor a musica.— E Ladice encaminhou-se para o outro lado da sala.

— Fiquemos aqui perto desta magnifica estatua — replicou Francisco, examinando-a. Era o “Porvir”, representado por um rapaz, de camisa aberta ao peito, fronte inclinada para trás, elegante, robusto, sorridente, cabeça descoberta, á maneira de quem encara o sol e exclama: — “Sou teu rival!”

Ladice curvou-se sobre um feixe de bellissimas avencas, entranhando pela folhagem os dedos.

— Como é delicada e vaporosa...

— E a planta da humidade e da sombra...

— Está viçosa assim, devido aos meus carinhos. Sou d´ellas a mãezinha. E´ verde em todos os tons... E´ terrivelmente feminina... Quem sabe se não são as nossas lagrimas crystalizadas?!— Ao emittir a esmo essas phrases, ella não cessava de acaricial-as.

— E´ pena que seja inodora...

— Não é de todo: cheira á herva guardada em herbario...

— O meu olfacto não é tão subtil...

— E porque ainda não experimentou. E Ladice mergulhou o nariz, a bôca, os olhos na avenca, que parecia recuar ao sentir sobre si esse perfil maravilhoso...