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O dr. Assis, recostado no sofá, sorria, ao vel-a infantil, curvada, segurar os ramos, exaltar-lhe a belleza, as ondulações de pluma. E sentia-se feliz, satisfeito em surprehendel-a assim, fragil, meiga, encantadora. Mas, de repente, a mulher extranha revelou-se: por entre a folhagem, elle divisava um rosto, onde o extase inconsciente da vida permanecia: ella vinha de pronunciar sobre as germinações dessa planta, á beira de suas raizes, ondo a seiva se transforma, se desliga do mysterio — o nome de Theophilo... E passando-lhe ás mãos um galhinho:

— Queira sentir...

Levando-o ás narinas:

— Palavra, senhorinha Ladice, não percebo... — Rindo-se de sua seriedade, accrescentou: — Não tenho a sua natureza...

Apezar da ligeireza do espirito, da apparencia despreoccupada, Ladice lhe notava certa inquietação, geito de quem anceia dizer alguma coisa, fazer uma pergunta, de quem espreita occasião propicia. Finalmente, aproveitando uma pausa, approximou-se e segredou-lhe baixinho:

— E´ verdade o que me affirmou ao jantar?

— Póde crêr...

— Será fantasia dos quinze annos, ou amor sincero?

— Não desçamos ás minucias. Não é uma confissão — acudiu Ladice, de subito.

— Perdão; é por consideral-a um typo superior, uma forte cerebração, que lhe ouso pedir esclarecimentos... Faça esse sacrificio por mim... Soffro muito.