Página:Exaltação (1916).pdf/74

Wikisource, a biblioteca livre
— 66 —

— E as suas mãos, ligeiramente queimadas, premiam-lhe o coração.

Compungida, a voz meio tremula, o falar apressado, os olhos baixos:

— Não foi esse desejo de amar, fallacioso, que irrompe na adolescencia e que faz com que, a todo o instante, pensemos ter encontrado o ente querido... Não! Foi uma paixão, um amor extremo...

Pareceu a Francisco ver nos olhos de Ladice agglomerarem-se as lagrimas de Nossa Senhora das Dôres.

— Mas, faz muito tempo isso? — E Francisco cravava as suas pupillas brilhantes e aridas no rosto de sua interlocutora.

— Ha um anno e tanto...

— E elle? — Essas palavras levavam atrás de si o cortejo de todos os sons cavos, funcbres, angustiosos, sem esperanças...

Por minutos, Ladice vacillou qual a resposta a dar: dizer-lhe a verdade seria plantar sizanias continuas entre ambos; seria formular uma duvida eterna; seria o renascimento incessante de suspeitas temerosas. O destino, a fatalidade, os seus pais, a sua consciencia vencida, arrastavam-n'a, entregavam-n'a a esse homem...

— Elle?... Morreu... — balbucion ella.

Ladice não mentiu ao enunciar essa affirmação. Theophilo, embora lhe agitasse o espirito, os sonhos, o mal, o egoismo, morrera para o seu corpo, a sua vida, a sua felicidade.