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Um suspiro de allivio saiu dos labios do dr. Assis, um suspiro profundo, impregnado de amargores e jubilos, á semelhança de um buicão orlado de lunares. Sorridente, tilintante, generoso, solicito, qual general ardendo em primícias de gloria:

— Coitadinha. Com certeza, já se consolou, pois não é mesmo? Ainda póde muito bem amar... se elle morreu...

— Ah! doutor, um amor igual áquelle nunca mais terei... Elle nos atravessa a existencia uma só vez... E´ a pennugem da papoula que o vento faz esvoaçar, e não volta mais... E´ o verde tenro dos rebentos, que o sol do meio dia cresta, e desbota para sempre... — Ladice sentia nos nervos a nostalgia dos crepusculos, das horas tardas..

— Sim, senhorinha de Santo Hilario, comprehendo... Mas, em se tratando de uma alma ardente e morbida como a sua, o segundo amor será tambem vehemente; sobretudo no seu caso... À senhora se acha deante de um facto consummado, irrevogavel; dir-se-ia um não, pronunciado por Deus...

— E´ um não que me rompeu a esperança, que me abriu em o senso a chaga incuravel dos fanaticos, o mal chronico dos lunaticos. — E, mudando de tom. vivamente — Oh! doutor, pudesse eu exclamar: — "Meu Deus eu sou a areia onde o vosso sangue escorreu...” Como seria feliz!... Que fatalidade radiosa !

Parecia-lhe que Theophilo se lhe enroscava pelas visceras...

Nas suas palavras havia desalento, azedume, abatimento.