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V CAPITULO

João D´Almada, após a estada de alguns mezes em uma cidade de aguas, chegára. O futuro noivado de Ladice não o surprehendeu. Essa sua priminha era tão deliciosamente feita, vibratil, lyrica, agitada, febril, como a lyra de Sappho... cheia de contrastes e desigualdades sublimes. Ora transparente, diaphana, de paredes de crystal; ora sombria, velada, indecifravel como um passado remoto, escondido sob a espessura dos seculos e do tempo — rapida, veloz, nuvem tocada pela tormenta, estrella scismadora, quieta, perdida sobre o universo...

Tivesse elle menos dez annos, a penna violenta de Carlyde, a figure de Alcebiades, e seria o pretendente. Só com essas excepções de espirito e fórma é que poderia calar, baralhar-lhe as vertigens da sensibilidade anormal. Sem amor, ella seria uma gelida esphinge, receptiva de carinhos e beijos, guardadora muda, passiva, de amores alheios, embora as suas cellulas se abrissem á vida gloriosa, á ebriez, á perfeição, ás plenitudes. Quanta vez elle lhe não surprehendera, em tardes calidas, olhares obliquos, esses olhares que teem o gesto das plantas, dos elementos, das coisas que fogem, olhares que têm integralidades, lucidez ar-