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dente, clamor desesperado, gritos silenciosos de um determinismo implacavel! Oh! os fremitos que lhe passavam pelo corpo, quando se deitava sobre a terra fria, no lado dos bambús, em dia de verão. E, na sua meninice, a fascinação morbida para com as coisas mortas, a volupia funebre que a agitava, ao enterrar os insectos, as bonecas quebradas... — “Agentes multiplos, ignotos, extraordinarios; germens que trabalharam em gerações successivas, explodem, completam-se, tornam-se principios activos nessa mulher”—dizia a si mesmo João.

Elle queria vel-a, estar a sós com ella, afim de sondar-lhe os sentimentos, saber-lhe os pormenores, as minucias dessa affeição.

Certo dia, pela volta das duas horas, o sr. D´Almada chegava á casa de sua tia. Ao ser informado de que esta e Dinah haviam saido, em visita a uma senhora, elle se não conteve de alegria: — “Que felicidade, será effeito do amuleto que aqui trago, preso ao relogio?” — pensou elle. Era uma salamandra de lapis-lazuli, comprada em Punnah, a um fakir, quando em viagem pelas Indias.

Ladice recebeu-o com alvoroço, festiva, risonha. Ella gostava em extremo desse primo, tão pallido, tão distincto, original, bizarro, que parecia trazer de cada paiz onde estivera um habito, um traço: fumava o opio em narguilé; dormia é sesta, estirado em pelles de lhamas negras, a cabeça sobre almofadas de cetim, resguardado da aragem por um biombo minusculo, onde crysanthemos se alteavam ao lado de ibis sombrios; na sua cabeceira, pendurado, á maneira de