O Orgulhoso
Era um jequitibá enorme, o mais imponente da floresta. Mas orgulhoso e gabola. Fazia pouco nas arvores menores e ria-se com despreso das plantinhas humildes. Vendo a seus pés uma tabúa, disse:
— Que triste vida levas, tão pequenina, sempre á beira dagua, vivendo entre saracuras e rãs... Qualquer ventinho te dobra. Um tisio que pouse em tua haste já te verga que nem bodoque. Que diferença entre nós! A minha copada chega ás nuvens e as minhas folhas tapam o sol. Quando ronca a tempestade, rio-me dos ventos e divirto-me cá do alto a ver os teus apuros.
— Muito obrigado! respondeu a tabúa ironicamente. Mas fique sabendo que não me queixo e cá á beira d’agua vou vivendo como posso. Se o vento me dobra, em compensação não me quebra e, cessado o temporal, ergo-me direitinha como antes. Você, entretanto...
— Eu, que?
— Você, jequitibá, tem resistido aos vendavais de até aqui; mas resistirá sempre? Não revirará um dia de pernas para o ar?
— Rio-me dos ventos como me rio de ti, murmurou com ar de desprezo a orgulhosa arvore.
Meses depois, na estação das chuvas, sobreveio certa noite uma tremenda tempestade. Raios coriscavam um atrás do outro e o ribombo dos trovões estremecia a terra. O vento infernal foi destruindo tudo quanto se opunha á sua passagem.
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