A tabúa, apavorada, fechou os olhos e curvou-se rente com o chão. E ficou assim encolhidinha até que o furor dos elementos se acalmasse e uma fresca manhã de ceu limpo sucedesse áquela noite de horrores. Ergueu, então, a haste flexivel e pôde ver os estragos da tormenta. Inumeras arvores por terra, despedaçadas, e entre as vitimas o jequitibá orgulhoso, com a raizama colossal á mostra...
— Que é tabúa, vóvó? perguntou Pedrinho.
— Ora meu filho! Então não sabe o que é tabúa?
— Sei o que é tábua...
— Pois tabúa é uma planta da familia das tifaceas, muito comum aqui nos nossos brejos e de cujas folhas, compridas como espadas, a gente da roça faz esteiras.
— Ah, sei! E’ até uma planta muito importante — a mais importante de todas, porque a gente da roça só dorme em esteira. Mas eu não digo tabúa, vóvó, digo pirí.
— Pirí é planta parecida, meu filho, não é a mesma.
Emilia achou que a moralidade da fabula estava certa, mas...
— Mas o que, Emilia?
— Mas entre ser tabúa e ser jequitibá prefiro mil vezes ser jequitibá. Prefiro dez mil vezes!
— Por que?
— Porque o jequitibá é lindo, é imponente, é majestoso, só cai com as grandes tempestades; e a tabúa cai com qualquer foiçada dos que vão fazer esteiras. E depois que viram esteiras têm que passar as noites gemendo sob o peso dos que dormem em cima — gente feia e que não toma banho. Viva o jequitibá!
Dona Benta não teve o que dizer.