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Página:Fabulas (9ª edição).pdf/154

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— Muito bem. E você, Emilia?

— Eu acho que as fabulas são indiretas para um milhão de pessoas. Quando ouço uma, vou logo dando nome aos bois: este mono é o tio Barnabé; aquele asno carregado de ouro é o coronel Teodorico; a gralha enfeitada de penas de pavão é a filha de Nhá Véva. Para mim, fabula é o mesmo que indireta.

Dona Benta voltou-se para o visconde.

— E que pensa das fabulas, visconde?

O sabuguinho assoprou e disse:

— Na minha opinião, as fabulas mostram só duas coisas: 1.º) que o mundo é dos fortes; e 2.°) que o unico meio de derrotar a força é a astucia. Essa da Liga das Nações, por exemplo. Os animais formaram uma liga, mas que adiantou? Nada. Por que? Por que lá dentro estava a onça, representando a força e contra a força de nada valeram os direitos dos animais menores. Bem que a irára fez ver o direito desses animais menores. Mas nada conseguiu. A onça respondeu com a razão da força. A irára errou. Em vez de alegar direito, devia ter recorrido a uma esperteza qualquer. Só a astucia vence a força. Emilia disse uma coisa muita sabia em suas Memorias...

— Que foi que eu disse? perguntou Emilia, toda assanhadinha e importante.

— Disse que se tivesse um filho só lhe dava um conselho: “Seja esperto, meu filho!” Se não fosse a esperteza, o mundo seria duma brutalidade sem conta...

— Seria a fabula do Lobo e o Cordeiro girando em redor do sol que nem planeta, com todas as outras fabulas girando em redor dela que nem satelites, concluiu Emilia dando um pinote.

Dona Benta calou-se, pensativa.

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