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Página:Fabulas (9ª edição).pdf/25

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Mas sua carga, em vez de esvair-se como a do primeiro, cresceu de peso a tal ponto que o pobre tolo foi ao fundo.

— Bem dizia eu! Não basta querer imitar, é preciso poder imitar, comentou o outro.


— Que é passar a vau? perguntou Pedrinho.

— E’ uma expressão antiga e muito boa. Quer dizer “vadear um rio”, passar por dentro da agua no lugar mais raso.

— E por que a senhora disse “redarguiu”? Não é pedantismo? quis saber a menina.

— E’ e não é, respondeu dona Benta. Redarguir é dar uma resposta que é tambem pergunta. Bonito, não?

— Por que é e não é? Como uma coisa pode ao mesmo tempo ser e não ser?

— E’ pedantismo para os que gostam da linguagem mais simplificada possivel. E não é pedantismo para os que gostam de falar com grande propriedade de expressão.

— E que é propriedade de expressão? quis saber Narizinho.

— Propriedade de expressão, explicou dona Benta, é a mais bela qualidade dum estilo. E’ dizer as coisas com a maior exatidão. Ainda ha pouco Emilia falou no “ferrinho do trinco da porta”. Temos aqui uma “impropriedade de expressão”. Se ela dissesse “lingueta do trinco” estaria falando com mais propriedade.

— Mas é ou não é ferrinho? redarguiu Emilia.

— A lingueta do trinco é um ferrinho, mas um ferrinho não é lingueta — pode ser mil coisas.


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