o decreto de sua nomeação para cavaleiro da mui augusta Ordem da Banana de Ouro.
Assim se fez e, enquanto o faziam, El-rei Simão, risonho ainda, dirigiu a palavra ao segundo viajante:
— E você? Que acha do meu reino ?
Este segundo viajante era um homem neurastenico, azedo, amigo da verdade a todo o transe. Tão amigo da verdade que replicou sem demora:
— O que acho? E’ bôa! Acho o que é!...
— E que é que é? interpelou Simão, fechando o sobrecenho.
— Não é nada. Uma macacalha... Macaco p’r’aqui, macaco p’r’ali, macaco no trono, macaco no pau...
— Pau nele! berra furioso o rei, gesticulando como um possesso. Pau de rachar nesse miseravel caluniador...
E o viajante neurastenico, arrastado dali por cem munhecas, entrou numa roda de lenha que o deixou moido por uma semana.
— Tambem concordo, disse Pedrinho. A verdade a gente deve dizer com muitas cautelas e só nas ocasiões proprias. Aquela sova que o Quim da botica tomou outro dia, por que foi? Porque o bobo disse na cara do coronel Teodorico o que toda gente pensa dele pelas costas. O bobo do Quim disse o que pensava e levou um “pé-de-ouvido” que o deixou surdo por tres dias. E’ o que ainda acaba acontecendo para a Emilia. Vai dizendo as verdades mais duras na cara de toda gente e um dia estrepa-se. Lembra-se, vóvó, do que ela disse para D. Quixote, naquela vez em que o heroi montou no Conselheiro por engano e ao perceber isso pôs-se a insultar o nosso burro? E se D. Quixote a espetasse com a lança?
— Emilia sabe o que faz, observou dona Benta. A esperteza chegou ali e parou. Ela sabia muito bem que o cavaleiro da Mancha era incapaz de ofender uma “dama” e porisso abusou...
Emilia rebolou-se toda ao ouvir-se classificada de dama...
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