Saltar para o conteúdo

Página:Fabulas (9ª edição).pdf/72

Wikisource, a biblioteca livre

O Carreiro e o Papagaio

Vinha um carreiro á frente dos bois, cantarolando pela estrada sem fim. Estrada de lama.

Em certo ponto o carro atolou.

O pobre homem aguilhoa os bois, dá pancadas, grita; nada consegue e põe-se a lamentar a sorte.

— Desgraçado que sou! Que fazer agora, sozinho neste deserto? Se ao menos São Benedito tivesse dó de mim e me ajudasse...

Um papagaio escondido entre as folhas condoeu-se dele e, imitando voz de santo, começou a falar:

— Os ceus te ouviram, amigo, e Benedito em pessoa aqui está para o ajutorio que pedes.

O carreiro, num assombro, exclama:

— Obrigado, meu santo! Mas onde estás que não te vejo?

— Ao teu lado. Não me vês porque sou invisivel. Mas, vamos, faze o que mando. Toma da enxada e cava aqui. Isso. Agora a mesma coisa do outro lado. Isso. Agora vais cortar uns ramos e estivar o sulco aberto. Isso. Agora vais aguilhoar os bois.

O carreiro fez tudo como o papagaio mandou e com grande alegria viu desatolar-se o carro.

— Obrigado, meu santo! exclamou ele de mãos postas. Nunca me hei de esquecer do grande socorro prestado, pois que sem ele eu ficaria aqui toda a vida.

—75