Mas a formiga era uma usuraria sem entranhas. Além disso, invejosa. Como não soubesse cantar, tinha odio á cigarra por ve-la querida de todos os seres.
— Que fazia você durante o bom tempo?
— Eu... eu cantava!...
— Cantava? Pois danse agora, vagabunda! e fechou-lhe a porta no nariz.
Resultado: a cigarra ali morreu entanguidinha; e quando voltou a primavera o mundo apresentava um aspecto mais triste. E’ que faltava na musica do mundo o som estridente daquela cigarra morta por causa da avareza da formiga. Mas se a usuraria morresse, quem daria pela falta dela ?
— Esta fabula está errada! gritou Narizinho. Vóvó nos leu aquele livro do Maeterlinck sobre a vida das formigas — e lá a gente vê que as formigas são os unicos insetos caridosos que existem. Formiga má como essa nunca houve.
Dona Benta explicou que as fabulas não eram lições de Historia Natural, mas de Moral.
— E tanto é assim, disse ela, que nas fabulas os animais falam e na realidade eles não falam.
— Isso não! protestou Emilia. Não ha animalzinho, bicho, formiga ou pulga, que não fale. Nós é que não entendemos as linguinhas deles.
Dona Benta aceitou a objeção e disse:
— Sim, mas nas fabulas os animais falam a nossa lingua e na realidade só falam as linguinhas deles. Está satisfeiat?
— Agora, sim! disse Emilia muito ganjenta com o triunfo. Conte outra.
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