A Fome não tem Ouvidos
Caira um triste sabiá nas unhas de esfaimadissimo bichano. E gemendo de dor implorava:
— Felino de bote pronto e afiadas unhas, poupa-me! Repara que se me devoras cometes um crime de lesa-arte, pois darás cabo da garganta maravilhosa donde brotam as mais lindas canções da selva. Queres ouvir uma delas?
— Tenho fome! respondeu o gato.
— Queres ouvir uma canção que já enlevou as proprias pedras, que são surdas, e fez exclamar á bruta onça: "Este sabiá é a obra prima da natureza?"
— Tenho fome! repetiu o gato.
— Tens fome, bem vejo, mas isso não é razão para que destruas a maravilha da floresta, matando o tenor cujos trinos criam o extase na alma dos mais rudes bichos. Queres ouvir o gorgeio em lá-menor da minha ultima sinfonia ?
— Tenho fome! insistiu o gato. Sei que tudo é assim como dizes, mas tenho fome e acabou-se. Para satis-
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