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Página:Fabulas (9ª edição).pdf/95

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faze-la eu devoraria a propria musica, se ela me aparecesse encarnada em petisco. E isso, meu caro sabiá, porque a fome não tem ouvidos...

E comeu-o.


— Acho muito “literaria” esta fabula, vóvó! disse Narizinho. Não ha sabiá que fale em “felino de bote pronto”, nem em “crime de lesa-arte”, coisas que nem eu sei o que são. Ponha isso em literatura sem aspas.

Dona Benta explicou que “felino” é um adjetivo relacionado a gatos, onças, tigres, panteras e todos os mais “felideos”.

— E que é felidio?

— E’ a familia dos mamiferos carniceiros que os sabios chamam felis. Ha o felis catus, que é o gato. Ha o felis pardus, que é o leopardo. Ha o felis onça, que é a onça. Sçao os felinos.

— E crime de lesa-arte?

— E’ um crime que lesa ou prejudica a arte. Lesar significa prejudicar.

— E por que a senhora botou essas “literaturas” na fabula?

— Para que vocês me interpelassem e eu explicasse, e todos ficassem sabendo mais umas coisinhas...

— E a fome não tem ouvidos mesmo?

— Não tem, minha filha. Quando a fome aperta, o animal faminto come o que encontra. Ha casos até de pais que têm comido os filhos, por ocasião das grandes fomes da humanidade...

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