O Olho do Dono
Um veadinho, fugindo aos caçadores, escondeu-se num estabulo. E pediu ás vacas que o não denunciassem, prometendo-lhes em troca do asilo mil coisas. As vacas mugiram que sim e o fugitivo agachou-se num cantinho.
Vieram á tarde os tratadores, com os feixes de capim e a cana picada. Encheram as manjedouras e sairam.
Veio. tambem, fiscalizar o serviço, o administrador da fazenda. Correu os olhos por tudo e foi-se.
O veadinho respirou.
— Vejo que este lugar é seguro, disse ele. Os homens entram e saem sem perceber coisa nenhuma.
Uma vaca, porém, o avisou:
— O perigo, meu caro, é que apareça por aqui o bicho de Cem-Olhos...
— Que? exclamou o veado. Ha disso?
— Ha, sim. Chama-se Dono. E’ um que quando aparece tudo vê, tudo descobre, desde o menor carrapato do nosso lombo até o sal que o tratador nos furta. Se ele vem, amigo, tu estás perdido!
Não demorou muito, surge Cem-Olhos. Vê aranhas no teto e interpela os homens da lida:
— Por que não tiram isso?
Vê um cocho rachado:
— Consertem este cocho.
— Vê o chão mal limpo:
— Vassoura, aqui!
—99