difficuldades que encontrei. Nem achei traduzido na nossa lingua um só verso do Fausto, nem um bom diccionario allemão-portuguez pude sequer descobrir.
Concluido o meu trabalho, podia dar-me por satisfeito com os prazeres intellectuaes que tão abundantemente me causou. Pensei todavia que prazeres egoistas nunca são completos, e imaginei, talvez me engane, que uma traducção do Fausto poderia chamar a attenção do nosso publico para a riquissima litteratura allemã, inda mal, tão ignorada entre nós. A opinião de um amigo, em cujo bom gosto e juizo tenho a maior confiança, confirmou-me nesta idéa. Resolvi pois dar à imprensa o manuscripto; revi-o cuidadosamente em Londres, e quando, em Fevereiro ultimo, me achei de volta a Lisboa, mandei-o immediatamente para o prélo.
Por ora apenas traduzi a primeira parte do Fausto, aquella que se accomoda ás condicções da scena, mas que, embora independente, é um episodio do vastissimo poema, da grandiosa epopêa, cujo heroe é o homem, considerado em todas as phases do seu desenvolvimento subjectivo e da sua acção externa. A aposta feita com Deus, não a ganhou ainda Mephistopheles; antes parecem mallogrados os seus esforços para perverter e rebaixar a indole generosa de Fausto.