Saltar para o conteúdo

Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/23

Wikisource, a biblioteca livre
S. BERNARDO
21

do palavras desconnexas. A cada solavanco do carro de bois que nos conduzia á cidade, levan­tava a cabeça:

— Tudo rico, seu Paulo. Vai ser uma desgraceira.

Agarrava-se a um fueiro do carro e punha-se a vomitar. Depois pegava no somno para accordar agoniado e arrotando:

— Arados, não ha nada como os arados.

Appareceu-me no dia seguinte, ainda com vestigios do pifão:

— Seu Paulo Honorio, venho consultal-o. O senhor, homem pratico...

— Ás ordens.

— Creio que já lhe disse que resolvi cultivar a fazenda.

— Mais ou menos.

— Resolvi. Aquillo como está não convem. Produz bastante, mas poderá produzir muito mais. Com arados... O senhor não acha? Tenho pensado numa plantação de mandioca e numa fabrica de farinha, moderna. Que diz?

Burrice. Estragar terra tão fertil plantando mandioca!

— É bom.

E não prestei mais attenção ao caso, deixei que elle se enthusiasmasse só e fosse discutir o seu projecto no Gurganema, á noite, ao som do violão. Realmente transformou-se. Nas pedras do Parahyba, com um cesto de cajus e uma garrafa