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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/24

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GRACILIANO RAMOS

de cachaça, aperreava os companheiros de farra declamando sementes e adubos chimicos. Tornou-se regularmente vaidoso, desejava aprender agronomia, e em pouco tempo a cidade inteira conheceu as plantações, as machinas, a fabrica de farinha.

— Como vai a lavoura, Padilha?

A principio respondia, depois comprehendeu o ridiculo e deu para se esquivar, maguado com as perfidias dos amigos.

— Selvagens! rosnava aguentando as batotas no baccará. Vamos para diante.

E a gente ficava sem saber se elle se referia aos parceiros que o pellavam ou aos camaradas que mangavam delle. Procurou-me e desabafou:

— Selvagens! Um emprehendimento de vulto, o senhor está vendo, e esses burros vêm com picuinha. Aqui ninguem entende nada, seu Paulo, isto é um lugar infeliz. Aqui só se cogita de safadeza e pulhice.

Cheio de amargura, abalada a decisão dos primeiros dias, confessou-me que tinha tentado contrahir um emprestimo com o Pereira.

— Cavallo! Fiz uma exposição minuciosa, demonstrei cabalmente que o negocio é magnifico. Não acreditou, disse que estava no pau da arara. E eu calculei que talvez a transacção lhe interessasse. Quer desembolsar ahi uns vinte contos?

Examinei sorrindo aquelle bichinho amarello, de beiços delgados e dentes podres.