Saltar para o conteúdo

Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/25

Wikisource, a biblioteca livre
S. BERNARDO
23

— Oh Padilha, gracejei, você já fechou cigarros?

Padilha comprava cigarros feitos.

— É mais commodo, concordei, mas é mais caro. Pois, Padilha, se você tivesse fechado cigarros, sabia como é difficil enrolar um milheiro delles. Imagine agora que dá mais trabalho ganhar dez tostões que fechar um cigarro. E um conto de reis tem mil notas de dez tostões. Vinte contos de reis são vinte mil notas de dez tostões. Parece que você ignora isto. Fala em vinte contos assim com essa carinha, como se dinheiro fosse papel sujo. Dinheiro é dinheiro.

Padilha baixou a cabeça e resmungou amuado que sabia contar. Sahiu, voltou outras vezes, insistindo.

— Eu sou capitalista, homem? Você quer-me arrasar?

Padilha resingava e offerecia a hypotheca de S. Bernardo.

— Bobagem! S. Bernardo não vale o que um periquito roe. O Pereira tem razão. Seu pae esbagaçou a propriedade.

Afinal prometti vagamente:

— Está bem. Vou reflectir.

No outro dia ainda estava reflectindo:

— Vamos ver, Padilha. Dinheiro é dinheiro.

Passei uma semana nesse jogo, colhendo informações sobre a idade, a saude e a fortuna do