Saltar para o conteúdo

Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/26

Wikisource, a biblioteca livre
24
GRACILIANO RAMOS

velho Mendonça. Quando me decidi, sujeitos prudentes juraram que eu estava doido.

Padilha recebeu os vinte contos (menos o que me devia e os juros), comprou uma typographia e fundou o “Correio de Viçosa”, folha politica, noticiosa, independente, que teve apenas quatro numeroso e foi substituida pelo “Gremio Literario e Recreativo”. Azevedo Gondim elaborou os estatutos, e na primeira sessão de assembléa geral Padilha foi acclamado socio benemerito e presidente honorario perpetuo.

Relativamente á agricultura Luiz Padilha acuou, esperando uns catalogos de machinas, que nunca chegaram. Começou a fugir de mim. Se me encontrava, encolhia-se, fingia-se distrahido, embicava o chapeo. No vencimento da primeira letra adoeceu. Fui visital-o e achei-o escondido na sala de jantar, jogando gamão com João Nogueira. Vendo-me, atrapalhou-se tanto que os dedos magros, queimados, de unhas roidas, tremiam chocalhando os dados.

D’ahi em diante encantou-se. Disseram-me que tinha ensebado as cannelas para S. Bernardo.

— Que estará fazendo por lá?

A ultima letra se venceu num dia de inverno. Chovia que era um Deus nos acuda. De manhã cedinho mandei Casimiro Lopes sellar o cavallo, vesti o capote e parti. Duas leguas em quatro horas. O caminho era um atoleiro sem fim: Avistei as chaminés do engenho do Mendonça e a