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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/28

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GRACILIANO RAMOS

— Não vale a pena. Vamos liquidar.

— Ora liquidar! Já não lhe disse que não posso? Salvo se quizer acceitar a typographia.

— Que typographia! Você é besta?

— É o que tenho. Cada qual se remedia com o que tem. Devo, não nego, mas como hei de pagar assim de faca no peito? Se me virarem hoje de cabeça para baixo, não cai do bolso um nickel. Estou lizo.

— Isso não são maneiras, Padilha. Olhe que as letras se venceram.

— Mas se não tenho! Hei de furtar? Não posso, está acabado.

— Acabado o que, meu semvergonha! Agora é que vai começar. Tomo-lhe tudo, seu cachorro, deixo-o de camisa e ceroula.

O presidente honorário perpetuo do “Grêmio Literario e Recreativo” assustou-se:

— Tenha paciencia, seu Paulo. Com barulho ninguem se entende. Eu pago. Espere uns dias. A divida só é ruim para quem deve.

— Não espero nem uma hora. Estou falando serio, e você com tolices! Desproposito não! Quer resolver o caso amigavelmente? Faça preço na propriedade.

Luiz Padilha abriu a boca e arregalou os olhos miudos. S. Bernardo era para elle uma coisa inutil, mas de estimação: ali escondia a amargura e a quebradeira, matava passarinhos, tomava ba-