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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/34

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GRACILIANO RAMOS

— Relativamente aos limites julgo que podemos resolver isso depois, com calma.

— Perfeitamente, concordou Mendonça.

Despedimo-nos. Continuei a estirar o arame farpado e a substituir os grampos velhos por outros novos. Mendonça, de longe, ainda se virou, sorrindo e pregando-me os olhos vermelhos.

Á tarde, quando voltei para casa, Casimiro Lopes acompanhou-me, carrancudo. Como eu não dissesse nada, tossiu, parou. Encostei-me a um limoeiro e espalhei idéas ruins que me perseguiam:

— Amanhã traga quatro homens, venha aterrar este charco. E limpe aqui o riacho para as aguas não entrarem na varzea.

— Só?

Pensei que, em vez de aterrar o charco, era melhor mandar chamar mestre Caetano para trabalhar na pedreira. Mas não dei contra-ordem, coisa prejudicial a um chefe.

— Só? tornou a perguntar Casimiro Lopes.

Apanhei o pensamento que lhe escorregava pelos cabellos emmaranhados, pela testa estreita, pelas maçãs enormes e pelos beiços grossos. Talvez elle tivesse razão. Era preciso mexer-me com prudencia, evitar as moitas, ter cuidado com os caminhos. E aquella casa esburacada, de paredes ca­hidas...