Página:Guerra dos Mascates (Volume I).djvu/34

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uma menina; mas o que primeiro se viu, senão somente, pois arrebatava os olhos todos e a alma, foi a cabecinha cheia de papelotes, que se enroscavam entre os anéis do cabelo negro. Nunca flores, nem pérolas, ornaram uma fronte fidalga como aqueles crespos de papel.

Trazia a menina os bolsos do avental cheios de gomos de cana, cortados à feição de chupar; e naquele momento, seus dentes brancos e polidos como o jaspe mordiam uma talhada, que lhe arregaçava graciosamente os lábios purpurinos. No prazer com que ela trincava a fibra da cana, sugando-lhe o mel, adivinhava-se o segredo dessa boquinha faceira.

Não era boca para embeber-se na delícia de um beijo ardente, com a ânsia da paixão que imbui uma alma na outra, fundindo-as em delíquios de amor. Não o era decerto; mas para trincar um coração, como se fosse um gomo de cana, ou para esgarçar a vida de um mísero amante, como o bagaço que segurava entre os dedos, isto sim: podia-se jurar.

Quem admirou a fina polpa desse lábio e não viu logo as semelhanças da pétala de rosa cobrindo o espinho, ou do bago da pitanga onde acaso insinua-se o farpão da abelha? Desses lábios, quando ele, alguma vez se abrocham em botão, não há fiar; são beijos