Página:Guerra dos Mascates (Volume I).djvu/35

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de morder, os que eles sabem, caricias que pungem n'alma e a deixam em piques. Por isso estão sempre a rir, não tanto de alegria, como pelo gosto de mostrar o dentezinho branco, sutil e afilado como o dardo da áspide que se escondesse em um aljôfar.

Mas naquele rosto gracioso, o primor não eram nem a boca brejeira e os cabelos cacheados, nem os olhos pretos que faziam cócegas no coração, nem mesmo a covinha da barba, que um poeta chamaria o ninho das graças. Era... Adivinhem!... Era o narizinho retorcido, que no meio daquelas gentis feições, parecia um anjo traquinas dentro de um berço de boninas.

Quando encontro um desses narizes arrebitados, já se entende, em rosto de moça, cuido estar vendo um passarinho, que arrufa-se de cólera e empina a cabeça, pronto a lançar a bicada. Reparem bem; depois digam-me se nesse retorcido gracioso de uma ventinha rósea e transparente, não está aí esculpido na sua mais bela forma o capricho. E se não sabem o que seja capricho, posso confiar-lhes este segredo de minha invenção: é um colibri que tem o ninho no coração de certas moças, e chupa-lhes o mel de todas as flores d'alma.