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Página:Guerra dos Mascates (Volume II).djvu/115

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O que distinguia especialmente a facúndia do nosso homem era a entonação com que ele pronunciava as palavras. Essa espécie de eloqüência retumbante tem sido cultivada por outros, mas ninguém ainda levou-lhe a palma. Darei aqui um exemplo de sua força nesse gênero.

Em uma das arengas que ele freqüentemente fazia nas rodas dos mascates contra os nobres de Olinda, querendo pintá-los sob uma face odiosa que produzisse impressão no auditório, exclamou: Vivem atolados no pirão, na rapadura e na cachaça.

Um seu êmulo diria esse rasgo com uma voz estentória capaz de estremecer os alicerces; outros lhe dariam inflexões enfáticas; mas nenhum era capaz de a pronunciar como o Magalhães, percorrendo três escalas cromáticas desde a primeira nota do tiple até a última do baixo profundo.

A frase, começada no nariz, descia-lhe pela garganta aos burburinhos e ia roncar nas profundezas do ventre. Assim, quem o ouvia falar conhecia logo que o homem não só tinha grande papo, embora invisível, como que era insigne ventríloquo.

Quando o Dr. Magalhães e o Padre João da Costa se encontraram pela primeira vez, sentiram-se mutuamente atraídos por uma simpatia irresistível. Agora achavam-se estremecidos; e dizia o reverendo que muito breve haviam de ver o advogado ao serviço do Filipe Uchoa e da gente de Olinda.