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Página:Guerra dos Mascates (Volume II).djvu/165

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de o achar, veio esbarrar com ele e arrecadou-o:

— Ora, muito bonito! Estou eu a procurá-lo, e o senhor a peraltear! Fique sabendo que um pajem bem ensinado deve estar sempre junto da dama cujo é, como seu caudatário e donzel, para defendê-la e servi-la a um seu aceno.

O Nuno recebeu o sabonete de cara murcha, mas assomando-lhe a natural petulância, levantou a crista contra as pieguices da dama que pretendia fazê-lo de menino.

— Saiba também a senhora que eu estou pronto a servi-la e tenho nisso muito gosto, mas há de ser como seu escudeiro e homem d'armas; que lá essa história de pajem e donzel é para os pirralhetes de quatorze anos, e eu cá já sou um homem.

— Quede a barba?

— A barba! Isso arranja-se, ainda que se pode bem dispensar, e a prova é que D. Antônio Filipe Camarão, que foi insigne capitão, não tinha um fio, nem a sua descendência; e mais eu posso comprar dois mustachos bem fornidos para compor o rosto, como o moço que faz de Ferão Brigoso, na farsa do Juiz da Beira.

— Mas não vê você, Nuno, que um pajem é mais próprio para uma dama?

— Pois eu de pajem não fico, nem que me serrem!