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Página:Guerra dos Mascates (Volume II).djvu/184

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foi de voto que o marisco era um alimento indigesto e pouco nutritivo, pelo que não tinham os povos de Olinda justo motivo para reclamarem a outra metade do rio; antes deviam agradecer o beneficio que lhes faria Sua Excelência, preservando-os de cruezas de estômago, flatos e outros achaques. O provedor tratou o caso ab ovo e demonstrou cabalmente com a autoridade de insignes gramáticos, que o marisco era fruto do mar, como estava dizendo a palavra marisesca, ísca do mar; e, estabelecido esse ponto, concluiu que todos os crustáceos do rio provinham do oceano e entravam pela barra do Recife, pelo que só ao Recife competia apanhá-lo. Quanto ao Viana, na sua qualidade de provedor dos defuntos, discorreu largamente, com a tal voz de carretão; mas ninguém percebeu o que disse; devia ser cousa muito profunda e digna da maior ponderação, porquanto os ministros ali mesmo julgaram necessário dormir sobre o caso.

Nesse ínterim o Ajudante Negreiros ouvindo desusado rumor na praça, obtida a vênia do governador, ergueu-se da mesa e assomou-se à janela para inquirir da causa dessa agitação.

Fronteiro a palácio estava postado um cavaleiro petiço e magriço, armado de todas as peças, capacete, gorjal, couraça, grevas, espaldeira braçais e guante, com o ginete estacado e a lança em punho.