chegado do reino, sem eira nem beira, nem ramo de figueira. Chamava-se ele Manuel Gonçalves, e tinha a cara lanhada por um gilvaz, troféu de certas façanhas pelas quais deixara na terra fama de parteiro jubilado.
Apenas desembarcado, os patrícios o arranjaram de feitor para o engenho Cumbe, do Sargento-Mor Matias Vidal, em Goiana, e aí tais artes fez, que os negros um belo dia o amarraram a um toco de pau e assentaram-lhe tremenda pisa, que eles na sua língua de Angola, chamam tunda. E dai veio ficar o Manuel Gonçalves batizado por Tunda-Cumbe.
A sova de pau não o desgostou do oficio de feitor, que ainda serviu por algum tempo na Várzea; depois fez-se almocreve de peixe, que ia comprar à ribeira e andava pelas portas a vender em um cargueiro. Mas como era homem de dar e tomar, e dessa última qualidade fazia prova plena a tunda de Goiana, ocupava-se o latagão em outros negócios, que lhe rendiam mais que a regatice, embora lhe custassem às vezes um arranhão na pele ou alguma escovadela no lombo. Para isso tinha ele o couro rijo, e a fêvera maciça.
Em todos os tempos agitados há dessa estofa de gente, que a fortuna se compraz de agarrar pela orelha e atirar no meio dos acontecimentos, donde não é raro vê-los subir pelos degraus das