Ficou, porém, no coração pernambucano um entranhado ressentimento, e crescendo todos os dias o desprezo com que os nobres tratavam a gente do Recife, passaram a designá-la pelo epíteto de mascates.
Esse termo, derivado do nome de um reino da Índia cujos naturais eram dados ao comércio, significava em princípio entre os portugueses de Goa o mesmo que mercador ambulante que percorria várias terras à maneira do Oriente.
Com o andar dos tempos veio a servir unicamente para exprimir o mister baixo e desprezível de bufarinheiro ou regatão que apregoa pelas ruas. Tão afrontoso era dar-se tal nome a um mercador desse tempo, como seria hoje em dia chamar em estilo clássico de traficante a um homem de negócio.
Retaliaram os do Recife com a alcunha de pés-rapados que puseram aos naturais, não só pela circunstância de andarem eles descalços e à ligeira, com o que se desembaraçavam no manejo das armas e na celeridade da marcha entre o mato fechado, como por alusão à estreiteza de muitos fidalgos caídos em completa penúria.
Soberbos os mercadores com a primeira vitória na questão do Varadouro, puseram a mira em cousa de maior monta, como era o foral de vila para o Recite, o qual uma vez independente de Olinda