Página:Guerra dos Mascates (Volume II).djvu/44

Wikisource, a biblioteca livre

— Neste posto de governador, devo-me a El-Rei primeiro, e aos povos depois, sem distinção de nobreza e peonagem. Mas não careceis de escudo, com os títulos que tendes. Do que precisais é de moderação e tolerância para atrair à nobreza pessoas abastadas e preponderantes.

— Não se costuma entre nós, senhor governador, repelir os que vêm como amigos, ainda quando não trazem cabedais, que mercê de Deus não cobiçamos.

— Será então falso quanto me referiram?

— Ignoro o que fosse.

— Que o alferes Vital Rebelo requesta uma sobrinha vossa, a qual lhe corresponde ao afeto; mas vós, ou os vossos, a tendes por modo defesa, que ao valente namorado custa-lhe um assalto d'armas cada vez que se avista de longe com a formosa dama?

— Há razões particulares, respondeu João Cavalcanti reservado.

— Estas razões, senhor capitão-mor, são desarrazoadas. Se o pai de Vital Rebelo ficou senhor do engenho e mais haveres do finado Luís Barbalho, marido de vossa sobrinha, mais pela prodigalidade deste do que pela usura daquele, que melhor meio de reparar esse revés da fortuna do que devolver por rima acertada aliança, ao casal donde saíram os bens dissipados?