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Página:Guerra dos Mascates (Volume II).djvu/51

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do homem; não o suponho capaz de tal argúcia, e nisso faço menos justiça à sua virtude, do que ao seu engenho.

Estavam os dois amigos no gabinete do advogado, que seguia a prática andando de um a outro lado. Passava ele por diante da livraria e acertou de cair-lhe sob os olhos um volume.

— Conheces este livro? perguntou apontando o rótulo com o índex.

— O Príncipe?

— Anda em moda compará-lo com Sebastião de Castro; e já ouvi de alguém, que o governador não era senão o livro encadernado em pergaminho humano. Com essa maledicência cuidam deprimi-lo, e o absolvem. Maquiavel foi o político de seu tempo, como este o é de sua escola. Observa-se em ambos a estranha fusão das máximas severas da moral com os manejos de uma astúcia desabusada. Agora a dedicação ao bem público; logo após um frio egoísmo. A razão disto, querem sabê-la? É que para eles, que têm os povos em conta de crianças, pois os conheceram assim, o governo do Estado não é outra cousa senão a arte de enganar os homens para o bem de todos.

Essa convicção robusta não deixou de abalar o mancebo, que movido em parte dela e em parte da deferência com que tratava ao amigo, disse-lhe em ato de despedir-se: