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MONTEIRO LOBATO

— E chama-se Meioameio, nome que eu dei — xeretou Emília, que também já despertara e viera correndo. — Mansissimo! No começo, quando Lelé o pegou...

— Que Lelé é esse, Emília? interrompeu Dona Benta.

— Hércules. No começo, quando Lelé o pegou com a boladeira num bando de centauros que passavam no galope, eu queria que a senhora visse como o coitadinho se debateu! Mas amansou logo, porque é inteligentíssimo e compreende tudo.

Nesse momento Meioameio deu o primeiro sinal de si: estava acordando. Abriu um olho, depois o outro. Sentou-se nas patas traseiras e ao dar com Pedrinho riu-se.

Pedrinho fez as apresentações. "Esta aqui é a vovó, Dona Benta de Oliveira; e esta é a célebre Narizinho de quem tanto falei lá na Grécia. E esta pretidão é a famosa tia Nastácia, que já esteve morando uns tempos no labirinto do Minotauro, lá na ilha de Creta."

E voltando-se para Dona Benta e Narizinho:

— Ele sabe tudo a respeito da vida aqui no sítio, porque nas nossas viagens (que eu fazia montado nele), a distração minha e o gosto de Meioameio eram a nossa vida aqui e as aventuras do Pim. Está tão afiado nas nossas aventuras que até agüenta um exame. Pergunte-lhe alguma coisa, Narizinho, para ver.

A menina perguntou: — Que foi que encontramos chorando na Via-Láctea, na nossa viagem ao céu?

— Um anjinho de asa quebrada que depois recebeu de Emília o nome de Florzinha-das-Alturas — respondeu Meioameio com a maior segurança e prontidão.

Apesar da estranheza que era a presença de um centauro no sítio de Dona Benta, uma semana depois já estavam tão familiarizados com ele como se ali tivesse nascido e vivido a vida inteira.

— E em que língua se entendiam?

— Ora, na "língua da Emília", que era a "língua geral" de todos ali — o rinoceronte, a vaca mocha. A "lingua da Emília" era uma mistura de português, castelhano, gíria, expressões inglesas como "All right", "Okay" e "Mind your business" (cuide