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ricos. Disso queixa-se ele, deixando na sua mesma queixa a marca da sua vaidade:

Saiu a sátira má e empurraram-me os perversos, porque enquanto a fazer versos só eu tenho jeito cá. Noutras obras de talento só eu sou o asneirão mas sendo sátira, então só eu tenho entendimento.

Achou-se, portanto, em guerra com a sociedade cujo era, de cujos vícios e manhas comparticipava, para cuja imoralidade contribuía com o seu exemplo de vida desregrada e ainda torpe, como o testemunham os seus poemas publicados e inéditos. Tinha aliás consciência da animadversão recíproca dele e de sua cidade:

Querem-me aqui todos mal, e eu quero mal a todos, eles e eu por nossos modos nos pagamos tal por tal: e querendo eu mal a quantos me têm ódio tão veemente o meu ódio é mais valente pois sou só e eles tantos.

E noutro passo dos inéditos da Biblioteca Nacional (Cod. 34-29, pág. 403) malsina assim cinicamente da terra:

Porque esta negra terra nas produções, que erra, cria venenos mais que boa planta: comigo a prova ordeno que me criou para mortal veneno.

É estranho que aquela confissão tão pessoal seja apenas o desenvolvimento, feito aliás com vantagem, destes