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Ou como este sobre A vida solitária, último paradeiro dos varões prudentes:

Ditoso tu que na palhoça agreste viveste moço e velho respiraste, Berço foi em que moço te criaste essa será, que para morto ergueste.

Aí do que ignoravas aprendeste aí do que aprendeste me ensinaste, que os desprezos do mundo que alcançaste armas são com que a vida defendeste.

Ditoso tu que longe dos enganos a que a Corte tributa rendimentos tua vida dilatas e deleitas

Nos palácios reais se encurtam anos porém tu, sincopando os aposentos mais te dilatas quando mais te estreitas.

Estas transcrições dão a medida do valor poético de Gregório de Matos e, parece, justificam o nosso conceito de que ele se não distingue notavelmente dos poetas portugueses e brasileiros seus contemporâneos. Que não teve a mínima influência literária no seu tempo ou posteriormente, provam-no de sobejo as obras dos seus confrades de grupo e as do século XVIII, o século das Academias literárias e, ao menos até antes dos mineiros, de extrema pobreza poética.

A importância literária da sua copiosa obra poética é singularmente levantada por lances interessantíssimos à história dos nossos costumes e da sociedade do seu tempo. Desta nos deixou, mormente na parte satírica ou burlesca, precioso elemento de estudo, das suas maneiras e hábitos, dos seus mesmos sentimentos e feições morais. A sua língua,