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Hoje em Roma de Pedro se lhe fia segunda vez a barca e o tridente porque a pesca que fez já no Oriente o destinou para a do meio-dia. Oh se quisesse Deus que sendo ouvida a musa bronca dos incultos Matos ficasse vossa púrpura atraída

Oh se como Aream, que a doces tratos uma pedra atraiu endurecida atraísse eu, Senhor, vossos sapatos!

Não esqueçamos que o poeta que assim saudava o arcebispo era vigário-geral e procurador da mitra. A estes versos de louvor a poderosos, vezo muito corriqueiro nos poetas contemporâneos, juntava Gregório de Matos alguns poemas de inspiração mais alta, como este soneto:

À Instabilidade das Coisas do Mundo:

Nasce o sol, e não dura mais que um dia depois da luz se segue a noite escura em tristes sonhos morre a formosura, em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o sol, por que nascia? Se é tão formosa a luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no sol e na luz falte a firmeza na formosura não se dê constância e na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância e tem qualquer dos bens por natureza e firmeza somente na inconstância.