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depois, era ter o governador deste nome lhe defendido versejar, quando se lhe deparavam assuntos como aquele. A historieta é interessante por muito significativo do estímulo e feitio poético de Gregório de Matos. E crescidíssimo número das suas composições chamadas satíricas não têm motivos diversos daquele que se lastimava de perder.

Não são melhores se não por menos indecorosos, os móveis de sua inspiração de outra ordem que a burlesca. Verseja por governadores, potentados, bispos e arcebispos, com louvores e enaltecimentos hiperbólicos e peditórios indignos. Verseja também por espetáculos de comédias a que assiste, por festas a que vai, por sucessos sem nenhuma importância, por beldades diversas, e por fim verseja devotamente como um libertino arrependido ou antes medroso do inferno.

Ao mesmo governador Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho, de quem fez numa das suas temíveis e melhores sátiras o célebre retrato, endereçou Gregório de Matos um Memorial em forma de soneto pedindo uma esmola (sic), o qual assim termina:

Seguiram os três reis planeta louro, guie-me a minha estrela o peditório com que na vossa mão ache um tesouro.

Entre vários sonetos seus a arcebispos, todos destoantes da reputação que lhe fizeram de poeta isento e homem de brios, depara-se-nos este a D. João Franco de Oliveira, que do bispado de Angola passava ao arcebispado da Bahia, e que reproduzimos por dar a medida da poética de Gregório de Matos:

Hoje os Matos incultos da Bahia se não suave for, ruidosamente cantem a boa vinda do eminente príncipe desta sacra monarquia.