Página:Historia da literatura brasileira (Verissimo, 1916).pdf/118

Wikisource, a biblioteca livre

Com o mesmo sentimento nativista sensível, embora sem emoção notável, desde a Prosopopéia e mais manifesto em Botelho de Oliveira, precedeu este poema de alguns anos o de Santa Rita Durão. Também no canto V do seu poema Eustáquidos, Fr. Santa Maria Itaparica, num sonho que finge, põe certo Postero a profetizar o advento do Brasil e nascimento do poeta, anunciando o poema da Descrição da sua ilha natal, que ele

Há de cantar em lira temperada.

Tudo isto com grande insulsez. O tal poema sacro e herói-cômico por si só não daria ao nome do frade poeta o mínimo relevo se lho não levantasse a emoção simpática com que cantou a sua pátria, como à ilha do seu nascimento chamou, e não documentasse a continuidade da inspiração que se ia criando e ficaria na poesia brasileira como um dos seus traços distintivos. Sob aspecto da língua não deixa de ser interessante a medíocre produção de Fr. Itaparica. A língua literária do Brasil ainda era então e seria por todo o período colonial, apenas talvez com menos arte e menos número, a mesma de Portugal. Não havia ainda tempo para que os cruzamentos e outras influências mesológicas houvessem modificado o falar brasileiro, e menos para que as modificações porventura havidas passassem do falar corrente à língua dos escritores educados por portugueses e feitos só, ou muito principalmente, na leitura de livros portugueses ou latinos. A de Fr. Itaparica é, pois, a língua do tempo, gongórica, empolada e sobretudo amaneirada. Todas as impressões e idéias se lhe reduzem em adjetivos,