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letras do Brasil, convocando-os de toda a parte dele para se lhes associarem, tiveram o efeito imediatamente útil de chamar a atenção e despertar o gosto e o amor do estudo da nossa história e das nossas cousas. São testemunho desse seu influxo a História da América Portuguesa, com que Rocha Pita realizou um dos propósitos da Academia Brasílica dos Esquecidos, e a História militar do Brasil, de José de Mirales, sócio da dos Renascidos, e confessadamente escrita por sua influência.

Estes, com Nuno Marques Pereira, o autor do Peregrino da América, são os escritores de prosa mais conhecidos desta fase da nossa literatura. Deles, porém, só merecem a atenção da história literária Rocha Pita e Marques Pereira.

De Nuno Marques Pereira não sabem os biógrafos senão que nasceu em Cairu, na Bahia, em 1652, e faleceu em Lisboa em 1728. Dos seus estudos, vida e feitos nada se conhece, que não seja suspeito de infundado. Era presbítero secular. No intuito piedoso de denunciar ou de emendar os costumes do Estado, que se lhe antolhavam péssimos, escreveu o livro citado, único lavor literário que se lhe sabe, e cujo título completo lhe define o estímulo e propósito. Chama-se compridamente: Compêndio narrativo do peregrino da América em que se tratam vários discursos espirituais e morais com muitas advertências e documentos contra os abusos que se acham introduzidos pela milícia diabólica no Estado do Brasil.