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auditório fácil e benévolo de letrados e poetas e portanto um estímulo oferecido ao seu estro.

Criadas quando acaso já não correspondiam às condições da sua origem européia, mais por imitação das do Reino, vontade e inspiração oficial do que como uma exigência e produto na incipiente cultura indígena, tiveram as academias literárias no Brasil, uma existência transitória e inglória. Mas não de todo inútil e sem efeito nessa cultura e na literatura que a devia representar. Apesar da origem oficial, e de serem um arremedo, havia porventura nelas um sentimento de emulação com a metrópole, e portanto um primeiro e leve sintoma do espírito local de independência. Acaso a denominação da primeira, de Academia Brasileira dos Esquecidos, revê o despeito dos seus fundadores contra o esquecimento dos letrados coloniais na formação das academias portuguesas anteriores. O propósito que não só essa, mas a dos Renascidos e a dos Felizes declaradamente tiveram, de estudar sob os seus diversos aspectos o Brasil e a sua história, traduz evidentemente um íntimo sentimento de apego à terra, com a intenção, ainda certamente pouco consciente, da parte que no seu desenvolvimento devia caber aos seus letrados.

A qualificação que todas, apesar do oficialismo da sua origem ou existência, se deram de Brasileiras (brasílica), quando ainda não existia ou não era vulgar o patronímico da terra, porventura já revela um sentimento de separação, do qual não tinham quiçá esses acadêmicos consciência, mas que o despeito ou motivos menos egoísticos, como a ufania da sua terra, criara. Como quer que seja apontavam todas ao progresso das letras e da cultura espiritual do Brasil, e trabalhando, ainda mal, como trabalharam, por esse propósito, trabalharam primeiro pela nossa emancipação intelectual e, por esta, sem aliás disso se aperceberem, pela nossa emancipação nacional. Isso, entretanto, não as impediu de continuarem a fazer a mesma obra literária dos portugueses, e fazerem-na inferiormente. Sobre haverem iniciado o comércio e trato recíproco dos homens de