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de Matias Aires da Silva de Eça, publicada em Lisboa em 1752. Entretanto são quase desconhecidas, mesmo dos eruditos e dos historiadores mais minuciosos da nossa literatura, não obstante o apreço que parece haverem merecido dos contemporâneos, se tal se pode inferir das quatro edições que teve até 1768. Matias Aires nasceu em São Paulo a 27 de março de 1705, de José Ramos da Silva, Cavaleiro da Ordem de Cristo e Provedor da Casa da Moeda de Lisboa, e de sua mulher D. Catarina de Horta. Não se lhe conhece a data da morte. Na companhia de seus pais foi para Portugal com menos de 12 anos, ali graduou-se de mestre em artes na Universidade de Coimbra e substituiu o pai na Provedoria da Casa da Moeda, e, parece, nunca mais tornou ao Brasil. Seria, pois, um espírito de pura formação portuguesa, apenas melhorando, ou somente modificado, quanto à cultura, pela estadia em França, onde se formou em direito canônico e direito civil. Pode ser estivesse também em outros países europeus. Além das Reflexões sobre a vaidade dos homens ou discursos morais sobre os efeitos da vaidade, com o mesmo objeto de filosofia moralizante escreveu mais uma Carta sobre a fortuna, que saiu anexa à 4ª edição das Reflexões (1786). Há também da sua lavra, mas já em outra ordem de idéias, o Problema de arquitetura civil, por que os edifícios antigos têm mais duração e resistem mais ao tremor de terra que os modernos? (Lisboa, 1777) e um Discurso congratulatório pela felicíssima convalescença e real vida de El-Rei D. José, saído em 1759.

Como moralista, Matias Aires ainda seria hoje benemérito de leitura e estima, sequer pela maior isenção do seu espírito das estreitezas do moralismo eclesiástico dominante no seu tempo, e também pela sua expressão mais desempeçada dos vícios estilísticos do tempo, mais livre, menos pesada e até mais elegante. Encontra-se-lhe mesmo, não obstante não fazer senão glosar a velha lição judaico-cristã sobre a vaidade, um ou outro conceito menos vulgar finamente enunciado. Ele seria o melhor dos nossos